segunda-feira

Fratura Exposta, de Cassiano Antico


Ganhei o livro do Cassiano na mesma noite em que nos conhecemos. Estávamos lá no teatro do Marião, bebendo - eu, a minha primeira long neck, acreditem se quiserem -, e fiquei sabendo (na verdade lembrei) do livro dele, com a inconfundível ilustração de capa do Kitagawa, amigo comum. Ele foi pegar no carro, separou para vários amigos e me deu "essas maltraçadas feitas com o coração".
Os textos são curtos e grossos, com o perdão da expressão. Não são literatura, como disse o Bac certa noite, mas são algo que toca. Não nego que já no primeiro texto chorei. E iria chorar várias outras vezes, para deleite do Cassiano. O fato é que ele não perdoa, nem a si nem aos outros, mas como ser humano mortal e ainda por cima humano perdoa, perdoa tudo.
São tocantes os textos em que ele se desmancha em agradecimentos aos parentes. Para um estranho isso pode não ser nada. Afinal, a quem interessa tantas loas para pessoas que sequer conhecemos? Mas a sinceridade por trás das palavras comove. Quase sentimos palpáveis os homenageados, a maioria que já se foram.
Mas da metade para o fim a conversa muda de figura. Começam a aparecer relatos estranhos de quando o Cassiano se drogava e aprontava numa cidade do interior de São Paulo. Não sabemos muito bem o que acontece, os relatos parece que flutuam no ar enquanto o bicho pega. E pega mesmo. Carro batido dos dois lados, pela frente e pela trás, relatos de pico, relatos de excessos que fizeram do Cassiano o que é hoje (?). Explico. O Cassiano é um sujeito intenso. Diz logo a que veio. Se gosta de você, gosta. Se não, esquece de você. Ele diz o que quer. Expressa-se com palavras, gestos, olhares, o corpo, diz claramente o que ele quer. Nem vou dizer o que ele disse da última vez que o vi, mas pude ver que ele disse porque sabia o que iria acontecer. Previu o futuro imediato. Do qual tirou todo proveito.
O livro do Cassiano, como ele mesmo diz, foi lido por gente de todo tipo. Gente de peso gostaria de implantá-lo em cursos do ensino médio. O livro parece ser eficaz em aproximar gerações. A do Cassiano ou mesmo outras. O livro, como o próprio nome diz, é uma fratura exposta, título sugerido pelo Marião, que o prefacia. A orelha coube ao Brum, o guitarrista, outro sujeito de excessos e de vida exposta a torto e a direito sem vergonha de se ser feliz. 

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